Hospitalidade e solidariedade: sinônimos que o dicionário não mostra
Conteúdo produzido por Rafael Mariachi exclusivamente para o blog do BCB São Paulo.
A hospitalidade e a solidariedade são duas virtudes que muitas vezes são confundidas, mas que estão intimamente ligadas. Ambas envolvem a ideia de ajudar ao próximo e oferecer suporte em momentos de necessidade, e ambas são fundamentais para construir relações significativas e comunidades fortes. E se existe um profissional que está na vanguarda deste raciocínio, esse profissional é o bartender.
Não à toa, é na comunidade de bartenders que surgem os maiores grupos racionais de movimentação solidária dentro da indústria da hospitalidade. Projetos como o Ada Coleman, que foi liderado por bartenders como Michelly Rossi e Thatta Kimura durante a pandemia ajudaram muitas mulheres de baixa renda, não só bartenders. O guest das Minas também, e ainda serviram como uma forma de alertar o setor sobre a importância da mulher atrás do balcão, além de ajudar algumas instituições. Estes movimentos também lidam com questões raciais e de equidade de gêneros.
Vale lembrar que grandes empresas, impulsionadas por movimentos que começaram por meio dos bartenders fizeram diversas campanhas de inclusão e de solidariedade. A marca de vodka Absolut da Pernod Ricard traçou por décadas batalha contra o preconceito de gênero. A marca Johnnie Walker da DIAGEO chegou a mudar seu símbolo maior. O icônico cavalheiro de cartola se transformou em uma dama caminhando.Tudo por causa da força que a comunidade de bartenders tem.
Acredito que o Drink do Bem de 2015 foi um impulsionador para materializar todo este aperto de mãos entre solidariedade e hospitalidade no setor de bebidas. Naquela ocasião, durante o desastre de Mariana (MG), Matheus Cunha (o campeão de tudo) desabafou em algum fórum sobre por quê ficamos sentados no computador julgando ao invés de ajudar a quem precisa. Eu tomei as dores junto com Tony Harion e uma porção de bartenders e fizemos um evento em praça pública, debaixo de chuva, para arrecadar 500 litros de água e 200 kg de leite em pó para a cidade. O evento foi criado em 10 dias e movimentou toda a coquetelaria de São Paulo.
Na manhã de terça-feira de Carnaval, Erivelton Mota, que esteve no primeiro Drink do Bem, me ligou para falar de algo que já havia pensado: o Drink do Bem 2023. As primeiras pessoas que chamamos para ajudar forami o Matheus, que estava no litoral norte ajudando as famílias mais penalizadas com os desmoronamentos; e Roberto Munari da DrinqMe, que já tinha ajudado na estrutura do bar do primeiro Drink do Bem.
Em três dias, 1200 pessoas estavam seguindo o nosso Instagram, sem a gente seguir ninguém, sem tráfego pago. Quase 50 marcas apoiaram a causa. Sem precisar bater muito na tecla, ninguém exagerou no consumo. Todos respeitaram a causa e o motivo para estar lá.
Foram quase 3 toneladas de mantimentos doados. 4 toneladas de água. 1 tonelada de roupas. Sete mil reais já desconsiderando custos para alguns bartenders da região.
Isso tudo só foi possível porque vários bartenders brasileiros se engajaram na causa. A indústria brasileira de destilados, a da cachaça, participaram demais. A Abrasel e a Abrafesta abraçaram a causa.
Tudo por conta da energia que o bartender empregou.
A solidariedade e a hospitalidade andam lado a lado. Um carrega o outro e garanto que todo bartender deste país também tem essa compreensão, mas ainda não entende o que ele consegue fazer dentro de uma comunidade unida. Mas para despertar esse sentimento no próximo, comece olhando dentro do seu bar: qual foi a última vez que você perguntou sobre a família do seu colega de bar? Que você chamou aquele garçom que do nada ficou nervoso para entender se estava tudo bem na vida dele?
Solidariedade está dentro de cada bartender. Solidariedade é sinônimo de hospitalidade, isso só não está no dicionário.
Conteúdo produzido por Rafael Mariachi exclusivamente para o blog do BCB São Paulo.