Camila Carlos: desafios e oportunidades para mulheres que querem ingressar no mercado de bebidas

Por Assessoria de imprensa

Créditos de imagem: Bernardo Guerreiro

Nos últimos anos, o setor de coquetelaria tem passado por transformações importantes e uma delas é o estímulo e prática de ações mais inclusivas e de diversidade. O fortalecimento dos movimentos de consumo consciente, a presença dos drinks não-alcoólicos nos cardápios e o espaço conquistado pelas bartenders são apenas alguns dos sinais de que o setor está mais amplo, o que é ótimo para profissionais, consumidores, estabelecimentos e marcas.    

E, para entender mais sobre uma destas importantes mudanças, o BCB São Paulo conversou com a bartender e chefe de bar, Camila Carlos, que atua no Kingston Club, bar localizado em Pinheiros, região considerada um dos redutos da coquetelaria paulistana, para destacar os avanços e conquistas femininas no mercado, as dicas para as mulheres que atuam no setor e as perspectivas, principalmente, neste momento de recuperação após o impacto de dois anos de pandemia.

Com meia década de atuação, a especialista acumula passagens pelo Fitó, Bar do Beco, Bar dos Arcos e Président, além de participação em ações inclusivas e oficinas de técnicas de bar em projetos sociais. A história da profissional é um exemplo das várias trajetórias, marcadas por desafios e superações, das profissionais que comandam os principais points de confraternização - os balcões dos bares. Confira:

Início de carreira: a importância da aprendizagem

O início da carreira sempre serve de exemplo e motivação para quem busca dar os passos iniciais, mas não sabe por onde começar. Camila conta que a aproximação com o universo da coquetelaria se deu em um momento de reflexão sobre a vida profissional. “Comecei fazendo uns freelas no Fitó, um bar liderado por mulheres e que emprega mulheres cis e trans, onde fui barback. Foi uma época em que eu estava sem direcionamento. Tinha experiência na área de vendas, havia trabalhado como corretora e gerente, mas queria mudar e foi muito importante trabalhar lá. Descobri o nicho e fui me apaixonando. Não sei se foi o acaso, mas eu sempre trabalhei com mulheres”.

A bartender ressalta que no início, a dedicação a um período de experiência e estudos foi fundamental para o aprendizado e o ganho de confiança. “Em 2017, ingressei no então recém-inaugurado Bar do Beco. Tive muito apoio e orientação da chefe de bar da época, a Juliana Braga. Eu não conhecia nada da área e ela me estimulou muito. Fiquei um ano atuando de barback porque reconheci a minha necessidade de adquirir conhecimentos e aprender técnicas, antes de assumir o cargo de bartender. Foi lá que passei por todos os pilares, barback, bartender e, em uma segunda passagem, chefe de bar. Acho que é o caminho certo para quem quer começar na área”, recomenda Camila.

A versatilidade é outro ponto importante na trajetória profissional, independentemente da experiência. Para isso, ter contato com diferentes estilos e estabelecimentos contribui na construção de repertório, o que pode abrir portas. Para a chefe de bar, a passagem pelo Bar dos Arcos, quando atuou na equipe da argentina Chula Barmaid, é um exemplo. “Foi uma experiência muito intensa e de muito aprendizado. Além de me sentir acolhida, atuar lá permitiu o contato com uma coquetelaria mais engajada, de maior requinte, e também me proporcionou desenvolver maior habilidade na entrega de produto, rapidez, delicadeza e um toque de sofisticação no preparo”.

Créditos de imagem: Mariana Smania

Recomendações

Mesmo destacando a importância de se dedicar ao aprendizado e a polivalência como fatores fundamentais, uma das iniciativas recomendadas pela profissional, para quem planeja ou já trabalha na área, é conhecer os bares. “Separe um dinheiro e visite os locais, nem que seja uma ou duas vezes por mês, veja desde a decoração, os drinks, saiba o que cada estabelecimento está fazendo em termos de receita, veja o que é tendência e converse com os profissionais. O conhecimento amplo de mercado é essencial”.

Estudar quem são as grandes referências da área, o que estão fazendo, seguir aqueles profissionais mais experientes que produzem conteúdos de qualidade em ambientes digitais, também são ações que a especialista indica como parte do processo de formação e que devem ser somadas aos cursos profissionalizantes. Enfim, manter-se atualizada é palavra de ordem.

Outro diferencial é considerar todas as possibilidades que o balcão oferece.  “Na carreira, deve-se ter um olhar voltado para o bar além das bebidas, para se enxergar o leque de oportunidades de trabalho que o setor proporciona”, recomenda Camila que concluiu recentemente um curso de gestão de bares.

Já em termos de soft skills, ela acredita que, tanto para quem está começando, quanto para quem é experiente, manter boa comunicação com a equipe, buscar a troca de conhecimentos, trabalhar em união, usar a criatividade e ter autonomia são pilares importantes para se destacar no mercado.

“Ter empatia e um olhar mais atento e humilde contribuem muito. É preciso saber que nessa área tem muita coisa para aprender e que se aprende muito todos os dias. É preciso fazer do ambiente de trabalho a sua casa. Afinal, é onde se passa dez horas do dia e, por isso, é essencial o bom convívio com todos”, acrescenta. 

Cenário

Em 2017, quando a carreira na coquetelaria teve início, Camila lembra que era difícil encontrar mulheres atuando na área. Para ela, o mercado está diferente, mas a luta por mais espaço e igualdade de oportunidades e direitos ainda é muito necessária. “Antes o mercado era uma bolha, difícil de entrar. Com o empoderamento feminino, os donos de bares passaram a ser mais engajados. Atualmente tem muita gente bem intencionada, de verdade, o que é ótimo. Mesmo assim, é preciso ficar atenta e analisar quando o engajamento é verdadeiro ou apenas vitrine para se destacar”, ressalta. 

A especialista ainda reforça que a união das mulheres, o trabalho dos coletivos e as iniciativas têm ajudado a tornar o setor mais inclusivo. Em 2019, Camila foi uma das convidadas do projeto Guest das Minas, que tem como objetivo apresentar as profissionais que estão começando e precisam ganhar visibilidade, por meio da criação de drinques. Conforme lembra, a experiência foi muito importante para sua trajetória e visibilidade e que essas ações podem ser uma alternativa para ingressar na profissão.

Retomada do mercado

A capacidade de se reinventar também é um dos alicerces de atuação no setor, seja para trabalhar em diferentes estabelecimentos ou para lidar com as oscilações do mercado. A pandemia, por exemplo, contribuiu para o aumento do desemprego e o fechamento dos bares. Houve quem buscou alternativas para complementar o rendimento, caso dela, que trabalhou com drinques engarrafados.

Passados alguns meses da retomada e da readaptação, as perspectivas são positivas para as profissionais. “Acredito que deverá haver um espaço maior para a atuação das mulheres na coquetelaria. A procura pelas bartenders está alta e o mercado está entendendo o movimento por maior diversidade e igualdade de oportunidades”, relata Camila.

Projeções

Após contar um pouco das experiências profissionais e dicas de mercado, a especialista também destaca o que espera do setor. Entre os seus desejos pessoais, a expectativa é de maior inclusão, com mais espaço para mulheres, para a comunidade LGBTQIA+, para negros e diferentes etnias e que haja coerência em termos de salários e reconhecimentos. Que os estabelecimentos também possibilitem que as profissionais tenham autonomia para exercerem a criatividade.

Ela revela, ainda, que se um dia tivesse um bar, “gostaria que fosse um local inclusivo, em que todos pudessem consumir bebida de qualidade e bem feita. Que fosse uma coquetelaria mais acessível, despretensiosa e que proporcionasse um jeito mais divertido de consumir e menos elitista”. Sobre os drinques favoritos, Camila destaca dois: o Old fashioned, para os dias em que está mais introspectiva, e a Caipirinha, para os dias de maior curtição.