01 a 03 de julho | 2024

A hospitalidade que ninguém vê

Conteúdo produzido por Tom Oliveira exclusivamente para o blog do BCB São Paulo.

Caros amigos.

É com muita alegria que convido vocês a juntos refletirmos sobre temas e assuntos um tanto quanto necessários não apenas para nossa área de bar, mas para todo segmento de A&B.

Compartilhando doses de informação, conteúdos, pontos de vista e o que mais for válido, acredito que podemos juntos mudar um pouco de nossa própria realidade, e talvez com isso, melhorar a realidade do próximo. Sou adepto do jargão de que "compartilhando a gente multiplica."

Não haveria tema melhor para começarmos nosso diálogo do que o assunto hospitalidade. Algo que muito se fala, mas pouco se vive de fato.

Sendo eu, bartender de profissão, mas hoje não tão atuante, venho repensado bastante sobre hospitalidade e buscando entender em qual momento o líquido dentro do copo, por exemplo, passou a ser mais importante que a pessoa que recebe esse mesmo líquido. No caso, o cliente que paga por ele.

Um bom coquetel, com ingredientes de boa qualidade, executado através das técnicas apropriadas, dentro de um copo ou taça estilosa, é o mínimo que se espera receber em um bar que oferta tal produto em seu menu. Ou deveria, ao menos. Mas para muitos que ali estão, exercendo o ofício de atender, parece ser apenas isso a tal da hospitalidade.

Hospitalidade vem da palavra grega "filoxenia", que remete a "ato de bondade/afeição para com estranhos", quando o conceito foi empregado pelo ato de cuidar bem de viajantes, sendo encarado como parte integrante da vida do anfitrião, oferecendo cortesia e zelo a esses visitantes, quer fossem estranhos, amigos ou parentes, transportando ao convidado uma extensão do próprio ambiente em si. "Sinta-se em casa" na forma mais intrínseca do ser.

O termo também deriva do latim "hospilalitale", referente ao ato de acolher, hospedar, promover um tratamento afável, cortês, ter amabilidade e gentileza ao próximo. O crítico e jornalista estadunidense Ambroise Bierce disse certa vez em um de seus ensaios que "hospitalidade é a virtude de alimentarmos e alojarmos pessoas que não precisam, nem de alimento, nem de alojamento."

A fruta abacaxi também sempre esteve atrelada ao simbolismo da hospitalidade. Na época das grandes embarcações, era considerada o maior supra sumo das realezas, sendo exposta no centro das mesas em banquetes das altas cortes, ou presenteada por nobres a cidadãos ilustres, como honraria por tal presença a determinado recinto ou aposento. Hoje é possível vê-la representada na entrada de hotéis, em quadros, ou mesmo toalhas e lençóis.

Voltando ao tema, tenho buscado entender o tal do serviço invisível, aquele que não necessariamente é feito quando todos estão olhando , mas é visível a quem se propõe a ve-lo, como calcular o tempo de saída do drink entre o balcão do bar e a mesa do cliente por exemplo, ou se a luz no ambiente está agradável, assim como o tipo de som e a altura estão adequados ao ambiente. Quantos passos o cliente terá que dar até o banheiro e quais obstáculos encontrará pelo caminho.

Falando sobre o ponto de vista de um bartender quase aposentado que vos escreve, tudo isso está agregado ao serviço invisível de hospitalidade, e fará uma enorme diferença entre o próximo drinque ou a conta na mesa. Nada errado em pedir a conta, desde que estejamos plenamente satisfeitos. Pedir a conta por insatisfação é outra história. O tipo de história que não queremos contar aqui, mas falaremos sobre sempre que necessário.

Ter boas garrafas não irá garantir um bom serviço de hospitalidade, assim como um bom carro jamais tornará alguém um bom piloto. Ser atencioso aos detalhes irá garantir uma boa primeira impressão. Seja na vida ou nos negócios, na maior parte das ocasiões, teremos uma única oportunidade para causar uma boa primeira impressão.

Quem gosta do que recebe acaba voltando, e nunca voltará sozinho. Em tempos onde tudo é digital (você estar aí na sua casa, lendo esse texto é a maior prova disso), ter a hospitalidade além daquilo que podemos ver será o diferencial, seja para tocar um negócio ou para receber alguém na sua própria casa para um almoço. Viver a hospitalidade é sair do básico bom dia, boa tarde e boa noite, ao abrir a porta.

Que tal antes de perguntarmos a alguém se gostaria de um copo com água, quase como um mantra automatizado que nos foi validado em algum momento de nossas vidas e replicado meio que instantaneamente, passarmos a prestar realmente atenção quando alguém entrar pela porta da nossa casa ou local de trabalho?

 

Conteúdo produzido por Tom Oliveira exclusivamente para o blog do BCB São Paulo.